Nosso próximo sorteio é o livro “Deus é vermelho” do jornalista Liao Yiwu. Após ter sido preso pelo regime comunista chinês por sua luta pela liberdade e democracia, Liao procurou exílo na Alemanha. O livro é o relato de muitas entrevistas conduzidas pelo autor com chineses que encontraram em Cristo a liberdade e a paz usurpadas pelo comunismo.Segue abaixo trecho de uma dessas entrevistas feita com o cantor e alfaiate Li Linshan:
“Quando descobri que tinha câncer, vivi uma fase muito difícil de reflexão. Contava meus dias com os dedos e dizia para mim mesmo: ‘Eu quase não tive felicidade nenhuma em vida. Qual o sentido da vida?’.
Liao Yiwu: Se você possuíse 20 mil iuans, poderia ter se tratado. Talvez as coisas tivessem sido diferentes.
Li Linshan: Se tivesse feito a cirurgia, talvez pudesse ter prolongado minha vida em mais cinco anos. Mas qual é a vantagem? Seria como esperar a morte. O câncer é uma faca cega, que me golpeia e me corta lentamente em pedaços. A dor é insuportável; era tudo o que eu podia fazer para aguentar. Não tinha sequer força para cometer suicídio.
Liao Yiwu: O que mudou?
Li Linshan: Havia um sujeito, o irmão Yang. Ele nasceu em Baoshan, Yunnan, e morava perto daqui. Ele costumava passar sempre pela loja. Começamos a nos conhecer melhor, e ele entrava e conversava comigo, perguntando sobre minha vida e negócios. Um dia, contei sobre meu câncer. Ele ficou muito chocado. Sentou-se e ouviu minha história. Ele se preocupou de verdade comigo. Disse: ‘Vai custar um monte de dinheiro tratar o câncer’. Eu lhe disse que não possuía o dinheiro. Tudo o que podia fazer era esperar a morte me levar. Ele não concordou. Disse: ‘Não desista tão facilmente. Vamos acreditar em Deus. Deus irá oferecer uma cura’. Eu não o levei a sério. Ele me visitou muitas vezes e dizia coisas como: ‘Velho Li, em sua condição atual, ter fé em Deus é a única saída. O hospital não pode ajudá-lo. Seus parentes estão desamparados. O governo não pode ajudá-lo. Pessoas comuns como nós, especialmente pessoas pobres como nós, precisam de algum suporte espiritual e ter fé. Você está à beira da morte. Por que então hesita assim? Entregue-se aos cuidados de Deus’. Com isso, as lágrimas surgiram em meus olhos. Para dizer a verdade, eu era um patético fantasma vivo, mas havia sido um tanto arrogante, preocupado em ser desonesto, à espera da desgraça alheia. Mas Deus estendeu a mão para mim, vez após vez, por intermédio do irmão Yang. Assim, eu disse em alto e bom som: ‘Deus, me aceite’. O irmão Yang fez uma oração de libertação por mim no mesmo instante. A balbúrdia na rua prosseguia a mesma. O sol continuava a brilhar sobre a cidade. As telhas permaneciam nos telhados, e os pássaros se empoleiravam nelas, gorjeando como sempre. A natureza seguia seu caminho. Somente eu havia mudado.
Acompanhei o irmão Yang, as mãos apertadas ao peito, as lágrimas escorrendo como pingos de chuva. E, vou lhe contar, eu não estava dominado pela tristeza. eu me sentia grato. Pela primeira vez na vida, não pensava em mim mesmo ou nos seres humanos. eu pensava em Deus, que se encontra acima de nós, acima de todas as coisa vivas, acima das mais altas montanhas e acima do lago Erhai. Meus pais me deram à luz, mas Deus me deu a vida. Eu não sabia disso. O câncer ajudou a abrir meu entendimento, concedeu asas a meu coração chafurdado na lama, e o fez voar e sentir a bem-aventurança do paraíso” (trecho retirado das páginas 80 e 81).